domingo, 24 de março de 2013

SEM CAMELÔ PAISAGEM CULTURAL do SÉCULO 21 do CENTRO É AMPUTADA

Para tentar me proteger das pedradas começo com citações:

MUDAR É A GLÓRIA DOS QUE SABEM

ensinava o velho Ruy.

Mas ele é velho, não merece consideração.
Tudo bem, deus e o diabo também são e continuam temidos.

Vendo o clipe dirigido por minha afilhada Ana Carolina Nassar Matos, a Velocidade do Eletro, fui ofuscado pela hiperealidade daquele ambiente caótico onde surgiu a maior manifestaçao cultural de Belém do fim do século 20, início do 21. Fenômeno que produziu a maior quantidade de ídolos midiáticos loconacionais: Calypso, de Joelma e Ximbinha; Gaby Amarantos; Gang do Eletro e estutos acadêmicos nacionais e estrangeiros.

Foi um choque. Caí do arrogante cavalo das estéticas clássicas, bem pensantes, excludentes, porque ufanam as manifestações culturais "eruditas", as "populares", bem, só as já "folclorizadas", àquelas cujas origens se "perdem nas noites dos tempos".

Finalmente, mais uma citação, bem terra-terra, do FHC: "Esqueçam tudo o que escrevi" sobre camelôs no Centro Histórico, (ou quase tudo, ou boa parte) pois, "mudar é a glória dos que sabem".

Os projetos de preservação dos Centros "histéricos" brasileiros são inspirados nos europeus. Na Europa essas áreas foram reconstruídas para narrar as glórias das cidades. Assim palácios, igrejas, moradias senhoriais, edifícios públicos foram restaurados, reconstruídos ou reinventados. Momentos desabonadores como os dos antigos guetos, em algumas cidades, foram estratégicamente "desaparecidos" como em Florença. O gueto que ficava paralelo a Via dei Calzaioli, que liga o Duomo ao Palazzo Vecchio, foi destruído. Em seu lugar foi contruída a Praça da República em estilo neoclassico, não há no local nenhuma menção que ali fora um "curral" onde moravam pessoas indignas de conviverem com cristãos.

Esta visão, no fundo ainda Higienista, de um "Higienismo Estético" não levou a bom êxito quase todas as intervenções nos centros históricos das principais cidades do Brasil.

O mais emblemático foi o Pelorinho, depois São Luis, bairro do Recife, Estação da Luz no centro velho de São Paulo...

As cidades não são apenas os maiores artefatos humanos, são
mega-giga-tera-ORGAnismos-SEXtemas.
Todo sistema tem desenvolvimento desigual ao longo de seu tempo-vida. Em determinado momento partes deste org-sex-sistema se desenvolvem mais que outras e se tornam dominantes. Mas pode ocorrer, que esta mesma parte, ou sub-sistema perca a dominância e assuma outra função.
Isso foi o que aconteceu com os centros históricos das grande s cidades brasileiras.
Os centros entraram em decadência, perderam suas funçôes de protagonismo nas atividades financeiras, comerciais e culturais e, com o tempo, suas seculares infra-estruturas começaram a ser adaptadas a outros usos menos "nobres": comércio popular, cortiços, prostíbulos, atividades ilegais e as ruas passaram a ser ocupadas por camelôs...

Como disse, isso aconteceu com todas as cidades, que cresceram, de A-Z.
No Br a luta para preservar os centros históricos decaídos tem mais de 20 anos e muita experiencia acumulada, mas não é um processo consolidado nem vitorioso.
Um dos graves erros tem sido a ilusão de que se a Europa conseguiu preservar e atrair milhões de turistas para Roma, Paris, Veneza, Córdoba, nós também conseguiríamos preservando os Centros Históricos (CHs) de Salvador, São Luis, Recife-Olinda, ou todo o imenso centro de Belém.

Primeiro é preciso deixar claro que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Lá há programas de escavação, recuperação e restauro anteriores ao século 18. Lá há um um secular turismo "culto". A história da beleza, da arte da cultura é toda eurocêntrica.....

Enquanto aqui.....
Bem, por dedução e vivência, sabemos como as coisas são aqui.
Vale acrescentar que desta vez a decadência dos CHs ocorre simultânea e generalizadamente em todos as grandes cidades brasileiras e não havia experiência, conhecimento acumulado, para lidar com esta hecatombe, esta URBETOMBE. Quando é assim, aconselha a prudência, observar experiências bem sucedidas em outros lugares, e só havia um lugar para olhar: a velha, boa e contraditória Europa.

E lá saímos limpando nossas cidades, removendo, autoritários, o entulho da decadência, as dolorozas cicatrizes que a pobreza havia imposto em nossa sacrosanta memória colonial, republicana, da revolução de 1930, e os paulistas da contra-revolução de 32.

Eu concordo que em muitos casos com razão. O belo deve ser a régua e o compaço. Recuperar a diversidades dos estilos refletindo as eras, os tempos que fluíram, mas que na Arquitetura, a pedra, o ferro, o barro e o cal, aprisionou.

No caso de Belém, o seu decadente CH foi cenário de um fenômeno cultural que já nos referimos antes.

O TECNOBREGA
O TEKNOBREGA
O TEQUINOBREGA

Não farei considerações sobre as origens sócio-culturais do fenômeno, apenas a espacialização de sua produção.

1- PRODUÇÃO é feita em estúdios improvisados - bastam um ou dois computadores comprados de um amigo do alheio e uns programas piratas - nos bairros da periferia da Região Metropolitana de Belém. Ali mesmo são reproduzidas as cópias.

[ { ( Produzir cultura é cultura ) } ]

2- DISTRIBUIÇÃO destes CDs "alternativos" na realidade cladestinos, piratas. (Na sociedade organizada pelo mercado, quem não tem registro, patente, contrato social, cnpj, está fora da lei. É ilegal.) É feita no mundo paralelo.

Pelos Camelôs
No Mercado persa
Na Feira de Caruarú
No Grã Bazar
Na Feira de São Cristóvão
No Veropeso hightech

Tolerados, não amados, mas consubstancial ao pai mercado.

[ { ( Vender cultura é cultura ) } ]

3- CONSUMO: Primeiro como CD, passavam a girar; tRRemeRR nos sons, nas rádios cipós, até a GLÓRIA das APARELHAGENS. Daí, sem lenço e sem documento, nos programas populares de rádio.
Hoje já em MP3, viram toques de celulares ou clipes no Youtube.

[ { ( Consumir cultura é cultura ) } ]

NÃO GOSTO DE
✖ Música alta
✖ Sonzão

Não escrevo para agradar.
Escrevo ESCRAVO do dever ético de quem, há anos, vem refletindo sobre os problemas de Belém.
Escrevo porque este é o modo correto de pensar uma intervenção no Centro Histórico.
Transcrevo, TRANSescrevo ideias que não são minhas.

Se a incompetência, a palermice, falta de criatividade, demagogia dos governantes em nome da crise econômica e do desemprego foram deixando que a se criassem estratégias de sobrevivências que envolviam, contrabando, pirataria, ocupação indevidada das vias publicas, se depois os próprios comerciantes se aliaram aos camelôs, se depois os fiscais dos orgãos públicos se aliaram aos camelôs e aos grandes importadores de muamba...

O fato é que foi neste ambiente físico e neste contexto Hitórico que aconteceu o

hiTECnoBrÉGUA

Agora sem os camelôs, qualquer intervenção no Centro Histérico de Bel

SERÁ

CENSURADOURA
Congelada na primeira metade do século 20.
Amputará do futuro a grande crise das cidades brasileiras do último quartel do século.
Fechará a cortina do passado sobre o início do 21.
Será Excludente.
Imporá um FALSO HISTÓRICO.
Imagina que criará -mas não criará, é impossivel- uma Disneylândia onde tudo seria divino e maravilhoso.

Não estou dizendo que deve ficar tudo na esculhambação, que a conivência e conveniência do poder público deixou que assim ficasse.

Estou dizendo que qualquer intervenção no CH, para estar de acordo com o que atualmente se pensa sobre proteção do PATRIMÔNIO CULTURAL, tem que reservar um espaço para os camelôs que vendem música TECNOBREGA.(Hoje são CDs, DVDs, amanhã pode ser um pendrive, um ponto onde você abasteça seu celular com as últimas novidades).

Do ponto de vista Arquitetônico, não estou falando nada que se assemelhe aquilo que um secreotário de Economia da PMB apresentava como panaceia universal: barracas padronizadas.

Antes de pensar qualquer intervensão lembrar a paródia Vú pra Cametá:

Sou do Barreiro
Não do Rio de janeiro.

Aqui é Benguí
Não Parri.

Nossa estética é do Gapó
Não do Juan Miró

Agora é tarde Shiva Nataraja já dançou sua dança no círculo de fogo

e destruiu tudo

para que tudo seja renovado como no eterno movimento do universo.

Agora ficará para sempre na Paisagem Cultural de Belém, a era em que Yara hidrEletRiKa de 10.000 magawatts de energia desestruturante, por aqui passava.

Ou quando tudo TREME, TREME, TRRREME [9.9 na escala Richter]

na passagem de KeiLINDA, garota-e-puraquê, que desmontou o UNIverSOM na veloZCidade do etétroN

Depois de tudo destruir, Shiva recria, conserva, preserva. Então a coluna neoclássica fica mais eclética ao lado de Maderito e do príncipe William Love.

.......

Se não for assim, é o mesmo que querer tirar os urubus da paisagem do Ver o Peso, para torná-mais civilizado, higiênico.
Ou quem sabe alourá-los?
Ou submete-los a banhos diários como cachoros nos pet-shops?

O IPHAN sabe o que eu estou dizendo.
O Ministério das Cidades sabe.
No governo do PSDB, estadual e municial tem gente com cultura suficiente para dar aula sobre isso.

segunda-feira, 11 de março de 2013

VICENTE, SEMPRE

Em 3 de dezembro de 2011 os Filhos do Quilombo com a presença ne Mestre Jorge, 84 anos, homenagearam Vicente Salles quando recebeu o Doutor Honoris Causa da UFPA.

Em 7 de março de 2013, os Filhos do Quilombo estavam de novo em Belem desta feita para homenagear Kabenguele Mugamga, Vicente partia, fiz questão de repetir a foto, mestre Jorge não veio, estáva doente, Kabenguele portando O NEGRO NO PARÁ, é a nossa homenagem que não tem palavras.