Suponho que para os professores e alunos de Psicologia da UFPA o Laboratório de Estudos do Luto e Saúde (LAELS) seja importante. A pergunta a fazer é se ele é estratégico para o desenvolvimento humano da sociedade paraense ou se existiria outra prioridade que tivesse mais nexo com esse escopo (o de melhorar nosso desenvolvimento humano). Não ignoro nem sou inciente da necessidade de preparar as pessoas para esse momento crítico. Mas pondero que mais importante seria preparar (educar) as pessoas para a vida boa, aqui e agora.
A morte faz parte do desenvolvimento humano e, historicamente, tem deixado de ser um momento de reflexão e de sofrimento mas de encontro entre as pessoas para se tornar um momento de sofrimento atroz até a banalização (vide primeiras páginas policiais e casos como Nardoni, entre outros). Profissionais de saúde, de todos os lugares e não só no Pará, lidam com a morte diariamente, e com tipos de mortes variadas, chocantes, desejadas(suicidas), sofridas, antecipadas (de crianças e jovens), súbitas (ataques cardíacos, homicídios, acidentes de trânsito), mortes lentas (câncer e outras doenças que podem se tornar crônicas) mortes parciais (amputações de membros, perda da visão, mastectomias, perda de partes da face, etc que esvaziam e matam funções e partes da vida). Quem está de fora e nunca teve um parente acometido por um câncer com perda de parte do rosto talvez ache realmente não prioritário ajudar os profissionais de saúde a lidar com a morte, o que só pode ser feito através de uma educação para a morte. Quem ignora a dor do outro pode achar simples quando uma família perde um filho pequeno ou um pai extremamente amado por seus membros. Mas existem aqueles que se sensibilizam pois veem o sofrimento de profissionais de saúde (e não só eles! há os bombeiros e policiais também!) que tem de suportar, além de mazelas conhecidas e comuns em hospitais com precárias condições de atendimento, a dor de carregar a imagem de um bebê que se foi, inocente, numa UTI neonatal. Gente, por caridade, se isso não sensibiliza vocês, sinto muito, vocês sim precisam ser educados para a morte pois o respeito ao sofrimento alheio e a ajuda a quem sofre a dor da perda fazem parte da vida. E, por fim, boa parte da banalização da vida hoje (uso de drogas, direção perigosa, sexo inseguro) vêm da pouca ou nenhuma percepção de que a morte é um fato para qualquer ser vivo nesta terra. E, poxa, cheguem mais perto dos grandes escritores e compositores (Rubem Alves, Chico Buarque, Cecília Meireles, Edgar Morin, Philippe Ariès, entre outros) para conhecer um pouco mais sobre o assunto ou pelo menos mantenham distância pois tem gente no mundo inteiro ligado ao Movimento dos Cuidados Paliativos e Estudos sobre Perdas que um dia você, ou seu pai idoso ou sua mãe, poderão precisar. Aí vocês saberão a diferença entre um profissional de saúde com preparo para lidar com a morte e um que não tem. Não é à toa que muitas pessoas ficam melhores e mais felizes depois que sofrem uma grande perda na vida: a morte lhes ensinou algo que não poderia ser ensinado de outra forma.
Meu caro Flávio,
ResponderExcluirSuponho que para os professores e alunos de Psicologia da UFPA o Laboratório de Estudos do Luto e Saúde (LAELS) seja importante.
A pergunta a fazer é se ele é estratégico para o desenvolvimento humano da sociedade paraense ou se existiria outra prioridade que tivesse mais nexo com esse escopo (o de melhorar nosso desenvolvimento humano).
Não ignoro nem sou inciente da necessidade de preparar as pessoas para esse momento crítico.
Mas pondero que mais importante seria preparar (educar) as pessoas para a vida boa, aqui e agora.
A morte faz parte do desenvolvimento humano e, historicamente, tem deixado de ser um momento de reflexão e de sofrimento mas de encontro entre as pessoas para se tornar um momento de sofrimento atroz até a banalização (vide primeiras páginas policiais e casos como Nardoni, entre outros).
ResponderExcluirProfissionais de saúde, de todos os lugares e não só no Pará, lidam com a morte diariamente, e com tipos de mortes variadas, chocantes, desejadas(suicidas), sofridas, antecipadas (de crianças e jovens), súbitas (ataques cardíacos, homicídios, acidentes de trânsito), mortes lentas (câncer e outras doenças que podem se tornar crônicas) mortes parciais (amputações de membros, perda da visão, mastectomias, perda de partes da face, etc que esvaziam e matam funções e partes da vida).
Quem está de fora e nunca teve um parente acometido por um câncer com perda de parte do rosto talvez ache realmente não prioritário ajudar os profissionais de saúde a lidar com a morte, o que só pode ser feito através de uma educação para a morte. Quem ignora a dor do outro pode achar simples quando uma família perde um filho pequeno ou um pai extremamente amado por seus membros. Mas existem aqueles que se sensibilizam pois veem o sofrimento de profissionais de saúde (e não só eles! há os bombeiros e policiais também!) que tem de suportar, além de mazelas conhecidas e comuns em hospitais com precárias condições de atendimento, a dor de carregar a imagem de um bebê que se foi, inocente, numa UTI neonatal. Gente, por caridade, se isso não sensibiliza vocês, sinto muito, vocês sim precisam ser educados para a morte pois o respeito ao sofrimento alheio e a ajuda a quem sofre a dor da perda fazem parte da vida. E, por fim, boa parte da banalização da vida hoje (uso de drogas, direção perigosa, sexo inseguro) vêm da pouca ou nenhuma percepção de que a morte é um fato para qualquer ser vivo nesta terra. E, poxa, cheguem mais perto dos grandes escritores e compositores (Rubem Alves, Chico Buarque, Cecília Meireles, Edgar Morin, Philippe Ariès, entre outros) para conhecer um pouco mais sobre o assunto ou pelo menos mantenham distância pois tem gente no mundo inteiro ligado ao Movimento dos Cuidados Paliativos e Estudos sobre Perdas que um dia você, ou seu pai idoso ou sua mãe, poderão precisar. Aí vocês saberão a diferença entre um profissional de saúde com preparo para lidar com a morte e um que não tem.
Não é à toa que muitas pessoas ficam melhores e mais felizes depois que sofrem uma grande perda na vida: a morte lhes ensinou algo que não poderia ser ensinado de outra forma.