domingo, 21 de novembro de 2010

Discovery exibe documentário alarmista sobre o Rio de Janeiro

“Cabe ao Rio de Janeiro mostrar que é capaz de cumprir as suas promessas”, diz o narrador. “E uma coisa é certa”, completa: “O mundo inteiro estará olhando”. É neste clima, meio de desafio, meio de ameaça, que “Rio de Janeiro: segurança em jogo”, um documentário do Discovery Channel, a ser exibido neste domingo, às 21h, apresenta a cidade que vai abrigar a final da Copa do Mundo de 2014 e será a sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Tráfico de drogas comandado das favelas (“há mais de 1.000”, informa o programa), violência nos estádios, fronteiras mal vigiadas, milhares de quilômetros de litoral. Os riscos vêm de todos os lugares, por terra, ar e mar, e podem assumir diferentes feições. “Durante o evento, é um país que vai estar, sim, com grandes possibilidades de sofrer um atentado terrorista”, diz um policial.
Aliás, das cerca de dez fontes entrevistadas apenas uma não é ligada às forças policiais ou ao aparato de segurança do Rio – “uma cidade mundialmente conhecida por sua beleza e violência”, diz o programa. Todos os depoimentos repetem um mesmo ponto de vista, sem confrontação, sobre a violência endêmica na cidade e os riscos envolvidos nos grandes eventos que a aguardam.
Na esteira, talvez, do sucesso de “Tropa de Elite”, o documentário do Discovery Channel consegue apresentar uma visão ainda mais limitada do problema da segurança carioca que o filme de José Padilha. Um olhar militar e policialesco, que exclui a possibilidade de compreensão e produz alarme.

2 comentários:

  1. O Leviatã de cada dia
    Pedro Ayres
    Jornalista
    Volta e meia há um grande escarcéu a respeito da violência urbana e de como as autoridades são incapazes de evitar que se propaguem. Tal reclamação, por sempre abordar a fina superfície do problema, tem o mesmo valor das imprecações contra uma inoportuna chuvarada ou uma forte ventania. Ou seja, serve, quando muito, como um desabafo ante o inesperado. Mas, aí fica a pergunta que há muito circula pela cabeça de todos nós – o que fazer?
    Se tivéssemos o correto hábito de sempre estudar um problema a partir de sua origem e de seus desdobramentos, poderíamos até nem suprimi-lo, mas, em compensação saberíamos partir para alternativas capazes de reduzir o seu raio de abrangência e de incidência. Ora, como nada disso é feito, o resultado é o que se vê e sofre. Ao longo do tempo, e bota tempo nisso, o máximo que tem acontecido é a adoção de medidas em cima de medidas, lembrando a política de manutenção das ruas e avenidas em algumas cidades brasileiras, como Belém do Pará, por exemplo, que têm camadas e mais camadas de asfalto, o que aumenta o calor e impermeabiliza o solo numa região extremamente chuvosa, ou seja, o que era para corrigir, acaba em se transformar noutros problemas. Um fato também comum ao Rio de Janeiro e à cidade de São Paulo.
    Mas, de volta à vaca fria, se fizéssemos uma completa pesquisa entre os presos brasileiros (e até mesmo entre os não-brasileiros), uma pesquisa para quem quer ver. Logo de cara uma característica fica bem exposta – a visão ideológica burguesa dos criminosos, principalmente entre os que “operavam” para o narcotráfico. Os objetivos e as mesmas ambições finais desses criminosos em nada diferem daquilo que é observável nas burguesias capitalistas e oligarquias políticas.
    A lógica é uma só – acumular riqueza, bens e poder. Desse modo, como se poderá evitar que surjam criminosos, pois, todos eles, mesmo sem nenhuma academia, sabem que a diferença entre eles e os seus modelos, é a “legalidade” dos seus haveres e dos seus status de poder. Um fato que é facilmente verificável ao se olhar para o recente passado de algumas (agora) ilustres e poderosas famílias e grupos econômicos que iniciaram as suas fortunas e poder via Paramaribo, como já aconteceu em Belém e algumas importantes cidades da região.
    Hoje, como o crime é uma rentável atividade, pois, além de não pagar nenhum imposto e nem contribuições trabalhistas ou previdenciárias – o sonho de qualquer capitalista -, além de ter o empregado ideal, que é descartável, permite altíssimos ganhos, mais e mais é um tipo de empreendimento para o capital ocioso ou que não aceita os “ínfimos” lucros auferidos através do cassino bursátil e das bolhas especulativas financeiras. É tão grande essa sede cumulativa que daqui a pouco também haverá uma “bolha especulativa do crime”.
    E o que é que tudo isso tem a ver com dia-a-dia das pessoas? É simples, caso a lógica política de investimentos públicos fosse orientada para garantir o bem-estar, a qualidade de vida e o trabalho para todos, os índices de violência seriam bem menores e até passíveis de desaparecimento, caso houvesse a ampliação desse tipo de política. Uma coisa é certa – quando uma sociedade produz a doença, e o crime é uma doença social, logo em seguida cria o criminoso ou o doente. Portanto, evitar a doença é mais barato e correto do que isolar ou matar o doente.

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  2. Nos marcos desta sociedade desigual e super exploradora não há solução para o problema da violência, seja no Rio de Janeiro ou em nossa sofrida Belém.

    Tudo que podem fazer é aumentar a repressão e matar alguns "peixinhos" enquanto que os "tubarões" continuam a lavar dinheiro do tráfico e a financiar a violência e o vício país a fora, desta forma podem reduzir ou estancar a violência mas nada de forma definitiva.

    Afinal é mais provável que as casas-fortes do tráfico estejam nas mansões e condomínios da barra da tijuca do que nos morros cariocas.

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