quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O crime compensa: garante pró-reitor

Sobre a postagem Pró-reitor em flagrate delito desrespeita direito autoral, Paulo Vergolino, produtor executivo da amostra, respondeu privadamente para meu email em vez de fazê-lo publicamente no blog, como seria seu direito. Vou respeitá-lo, mantendo o sigilo de sua resposta, mas vou, publicamente, fazer comentários sobre o conteúdo de sua contestação.

A postagem teve um claro objetivo contestar a maneira mercantilista de entender a propriedade intelectual.
Fui claro, é preciso combater essa tentativa do Capital de se apropriar, tornar privado os bens da cultura humana sob o nome de direito autoral, de propriedade intelectual, direito de imagem.
A cultura é um processo histórico ininterrupto produzido coletivamente.
É um bem comum da humanidade. Se deve remunerar os seus produtores da mesma forma como se remunera os que trabalham em outras atividades humanas.
Quando o Bill Gates provar que pagou os direitos autorais à Aristóteles pela leis da lógica, ainda hoje usada por seus programadores, ou ao cara que inventou a soma, o alfabeto, os números arábicos...
Eu, imediatamente, em um gesto largo, liberal e moscovita, como diz Álvaro de Campos, depositarei na conta da Microsoft, o correspondente a todos os programas que pirateei.
Putz! citei o Fernando Pessoa e nem me preocupei em pagar direitos autorais, direito pelo uso de suas palavras.
Se existe direito de imagem, por que não o "direito de palavra"?
Palavras, imagens, sons, softwares são todas formas de expressão, de comunicação. 
(Me corrija se eu estiver errado, o professor Fábio Castro)
O que difere um poema de uma imagem?
E a poesia visual, a poesia concreta, é poesia ou imagem?
Pode ser citada como palavra, ou tem que pagar direito de imagem?

Haroldo de Campos

A liguagem dos computadores reduz tudo a bits e bytes, não importa se som, imagem, palavra: tudo é o um só fluxo que une emissor e receptor. Assim também é o nosso cérebro.
Se eu posso, copiar o verso, citar o verso, samplear o verso, deslocá-lo de seu texto, colocá-lo noutro contexto, por que não posso copiar/fotografar a imagem, samplear a imagem, deslocar a imagem, colocá-la em outro contexto, sem ter que pedir licença, pagar direito?


Todo mundo pirateou Korda.
Ninguém pagou direito de imagem para Korda.
Direito autoral para Korda.
O autor da mais famosa foto de Ernesto Guevara.


Nada foi mais sampleado, citado, copiado, pirateado do que esta foto do Che.

Andy Warol sampleou a foto de Korda
Remixou a foto de Korda.
Fez de Che um pop-star.


A Mercedes Benz, copiou, pirateou, sampleou, Korda.
Trocou a estrela, de cinco pontas, da boina do "Comandante" pelo símbolo da multinacional.


Como disse, repito: Hoje o ato de fotografar, registrar no chip do celular/câmera, este complemento eletrônico indispensável para o "complexo-ente-pós-humano" que somos, e depois blogar, tuitar ou feicebucar, faz parte de nosso processo cognitivo, ou pelo menos de memorização. Só ver não basta, a câmera do celular, quase já universalizada, é extensão do olho e da memória: registra, armazena, e distribui.
A câmera/celular é o caderno de notas (notebook).
Será que com uma câmera de miseráveis 3 megapixels, alguém pode produzir um trabalho comercial? Sem luz, sem fundo adequado, sem tempo de exposição, sem tripé? O que só se obtém com aparato profissional e tempo de produção.
Proibir fotografar em nome do direito de imagem é manifestação histérica da propriedade, no sentido de controlar de "vigiar e punir", como ensinou Foucault.

Samplear é preciso
Coletivo brasileiro na internet combate o copyright em prol da
  generosidade intelectual.Veja.

Mas eu não estou só. O post manteve durante três dias média de mais de 500 acessos. Vários comentários, a grande maioria altamente favoráveis, inclusive colegas que são referência na UFPA, confira.
No Facebook o link foi replicado em diversos perfis de personalidades de destaque no mundo artístico e cultural.



Mas nós não estamos sós. Ontem, 18 de janeiro, aqueles que pensam uma internet pública, aberta, colaborativa, criativa, os amantes da liberdade de expressão na web, fizeram um dia de protesto contra a SOPA lei que autorizaria o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e os detentores de direitos autorais a obter ordens judiciais contra sites que estejam facilitando ou infringindo os direitos de autor ou cometendo outros delitos e estejam fora da jurisdição estadunidense. O procurador-geral dos Estados Unidos poderia também requerer que empresas estadunidenses parem de negociar com estes sites, incluindo pedidos para que mecanismos de busca retirem referências a eles e os domínios destes sites sejam filtrados para que sejam dados como não existentes.
A internet para os cidadãos dos EUA sofreu um blackout.


Assim seria a WEB se a Lei de Combate à Pirataria Online fosse aprovada.
Advertia este sítio que abriga o maior banco de imagens sobre arquitetura do mundo.
É um projeto que seria impossível sob a SOPA.


O The Telegraph, jornal conservador inglês fez a melhor comparação: 
SOPA equivale ao esmagamento da prensa de Gutemberg.

Se posicionaram contra a SOPA as principais empresas que atuam na Internet como o Facebook, Twitter, Google, Yahoo!, LinkedIn, Mozilla, Wikimedia, Zynga, Amazon, eBay, Reddit, 4chan e 9GAG. Também organizações de direitos humanos, como Repórteres Sem Fronteiras e Human Rights Watch. A empresa de registro de domínios Go Daddy inicialmente apoiou a proposta. O posicionamento atraiu fúria de seus clientes, levando-a reconsiderar o apoio.

Eu vou te samplear, eu vou te roubar!
A Xirley na voz da Gaby Amarantos pode ser o grito-hino desta liberação-libertação.


Vou apresentar ao Conselho UNIVERsitário a proposta do prof. Haroldo Baleixe:
Que a UFPA não abrigue exposições que venham com este tipo de exigência.
A UNIVERsidade tem que ser vangarda.
Tem que ser guardiã dos valores humanos.
Tem que ser de todos e para todos, tem que ser UNIVERSAL.

P.S.: Paulo, resto são abobrinhas burocráticas que não merecem comentários.

5 comentários:

  1. Meu paipai!!

    Dá uma olhada nesse blog interessente do moviento A2K (access to knowledge) aqui no Brasil!

    É um projeto mundial em que FGV funciona como sede no Brasil. Eu conheço uma professora que é bem atuante no projeto. Se quiseres, a gente podia organizar um seminário na UFPa sobre o assunto!

    bjs
    Filho

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  2. Filho
    Não veio o link.
    Seria legal promover um debate sobre o tema aq na UFPA.
    Podes intermediar os primeiros passos?

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  3. Claro, pai.

    vai o link!

    http://www.a2kbrasil.org.br/wordpress/lang/pt-br/

    bjs

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