terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Platão da UFPA brilha no sul

Nos primórdios do colunismo social da "terrinha" havia um colunista, não sei qual, que mantinha uma seção: Paraenses que brilham no sul. Quem brilhasse no sul, teria luz suficiente, não poderia mais ser ignorado aqui, confirmando o bíblico: niguém é profeta em sua terra.
Continuamos provincianos, e, neste caso, a Bíblia continua a ter razão.
Somente somos capazes de reconhecer algum brilho por aqui, se for apontado de fora, melhor, do "sul maravilha".
Os três primeiros volumes das obras completas de Platão editadas pela Editora da UFPA, brilharam no sul.
Na edição do domingo 15 de janeiro, Hélio Schwartsman em sua coluna na Folha de São Paulo publicou Platão e o Kindle com elogiosos comentários.
Pronto, agora todos já podemos elogiar.
Transcrevo abaixo.

Platão e o Kindle

O diabólico Kindle, que faz com que eu carregue a Amazon inteira debaixo do braço, reduziu a frequência e o escopo de minhas visitas a livrarias físicas. Alguns dias atrás, porém, aquiesci aos caprichos de um de meus filhos e me deixei perder nos corredores de um grande varejista de São Paulo.

A surpresa não poderia ter sido mais agradável. A Editora da Universidade Federal do Pará lançou uma caprichada edição bilíngue dos diálogos de Platão. Não sou de rasgar elogios à toa, mas é coisa de Primeiro Mundo: capa dura de tecido, papel de 90g e, mais importante, o texto grego que corre ao lado da tradução brasileira página a página. De comparável, há coleções como a francesa Belles Lettres e a americana Loeb Classical, que tiveram início nas primeiras décadas do século 20.

A tradução utilizada foi a do sempre competente Carlos Alberto Nunes (1897-1990). Ele é, se quisermos, um clássico entre os tradutores. Dono de uma prosa límpida, privilegia a compreensão do original, sem perder-se em invencionices ou detalhes que interessam, sobretudo, a especialistas. Trata-se, portanto, de uma boa escolha para uma edição bilíngue, na qual as complexidades semânticas e sintáticas estão a poucos centímetros de distância, à disposição para a consulta de helenistas.

Mas basta de propaganda. Cada um dos Platões custa R$ 80. A coleção inteira, que terá 18 volumes, sairá por R$ 1.440, preço salgado para a maioria dos bolsos universitários. É um valor praticamente igual ao dos tomos da Belles Lettres (€ 35), mas muito superior ao dos volumes da Loeb, que ficam por US$ 24 (R$ 40).

Principalmente por falta de leitores, o livro no Brasil tem baixas tiragens e, por isso, sai caro. É a razão pela qual não abro mão de meu Kindle: com o mesmo quinhão do orçamento, adquiro muito mais títulos. Com isso, editores e livreiros brasileiros perdem mais um leitor. É o que os economistas chamam de círculo vicioso.

Parabéns para a Simone Neno, Diretora da Edufpa.
Parabéns para o Maneschy que apoiou, apaixonadamente, o projeto sonhado pelo Benedito Nunes.
Eles brilharam por nós.

Um comentário:

  1. Segundo o Lúcio Flávio Pinto desta quinzena, Paraenses que Brilham no Sul era uma seção fixa da Folha do Norte.

    Orlando

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