quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

POR QUE NIEMEYER FICOU NA ENCRUZILHADA?

Uma outra questão sempre discutida é a localização do monumento.

O propósito do monumento na entrada da cidade era ser um marcovisual forte, e que transmitisse uma imagem de modernidade de arrojo para Belém.

Originariamente ele estaria no cento de um grade parque com estacionamento, e seria permitido o acesso e a visitação aos restos mortais dos presidentes cabanos, depositados em uma cripta guarnecida com vitrais de Marianne Perretti, que ornamentam quase todas as grandes obras de Niemeyer, desde a catedral de Brasília.

Os critérios usados por Roque, para fazer a identificação dos restos mortais dos herois Cabanos, foram considerados pouco rigorosos.


Os maledicentes juramentados disseram que entre os despojos havia ossos de animais e, suprema sacanagem, até a sola de um conga.

Uma equipe de bravos Indiana Jones deslocou-se de Belém até Barcarena para resgatar os despojos dos Pais da Pátria Paraense, bem que eles poderiam contribuir, relatando detalhes desta aventurosa e patriótica expedição.



O Roque é um mentiroso!
Um falsificador!
Um deploravel embusteiro!

Novamente lá vem esse pessoal que não tem terapia que dê jeito, querendo desmerecer o nosso Roque Santeiro, que tem uma enorme contribuição para dar substância à paraensidade e já vão logo sapecando em cima dele a fama de ser um falsário, um cigano prestidigitador.
Roque foi profundamente devotado à causa paraense, tudo que fosse do Pará lhe arrebatava: Círio, Ciclo da Borracha, Lemos, Barata, Cabangem. editou a enciclopedia.....etc
Via no culto à Cabanagem forma de incentivo à população paraense de acordar deste sono letárgico, por isso era importante uma grande proximidade, intimidade até com os herois, com as relíquias desses santos.
E nada mais comovedor do que a proximidade física com o que restou do heroi, seus restos mortais.
Ele não falseou, foi digamos, HIPER-REALISTA.
Foi hiper-realista para construir o nosso panteon, como foi aventurosa e cheia de maravilhas a história dos primeiros séculos do Cristianismo.
A busca das relíquias, para dar legitimidade a fé, a prova nos autos, a materialidade do etério. Confunde-se com a própria história da Fé, confirmando-a e negando-a.
Se gerações acreditam, durante séculos que Flávia Júlia Helena Santa Helena, mãe de Constantino, em 337 AD. portanto 304 anos depois, em peregrinação à Palestina, encontra a "Vera Cruz" a verdadeira cruz na qual Cristo martirizado redimiu a humanidade e recomeçou a História, por que não seria crível que cento e poucos anos depois, se encontrasse os restos, os ossos e até farrapos das roupas com que os nossos santos-herois foram sepultados?



Sem essa proximidade quase íntima entre céu e terra, o catolicismo seria uma coisa racional, um calvinismo.

O mito, o nada que é tudo
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia
Cadáver adiado que procria?
Fernando Pessoa

Ninguém aguenta mais realidade do que já estamos expostos.
Ela é mais maligna que raio ultravioleta ou radiação atômica.
Precisamos de mitos, precisamos de sonhos e o conga e os ossos de bicho do Roque, chegando dentro de urnas, sendo recebidas com salvas de tiros e honras de chefe de estado, era essa fuga libertadora.

Melhor seria se os meninos que lá fossem acreditassem que ali estava o rádio e o úmero de Angelim, que lhe tinham sustentado a fama de bom de pontaria, em vez de uma canela de boi.
Ou a tíbia e o perônio da perna de Vinagre, que lhe garantia fugir rapidamente pelos matos, e não um solado de conga.
O sentimento de agregação, de - agora é a palavra da moda - pertencimento, de identidade, de unidade e união, que a crença nestas grandes mentiras causam é um bem de valor intangível.
São tão felizes e saem tão reconfotados e irmanados no mesmo sentimento os peregrinos, que até hoje acreditam que na cripta, abaixo do baldaquino de Bernini, estão os ossos do apóstolo Pedro, a pedra sobre a qual se contruiu o ocidente.


3 comentários:

  1. E por que não vingou o projeto do grande parque com estacionamento?

    Sâmia Barbosa

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    1. Sâmia
      Estou preparando mais um post contando os descaminhos do monumento.

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  2. "Ele não falseou, foi digamos, HIPER-REALISTA"

    Muntcho bueno. Tás brincando que tinha a sola de um conga?

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