A maioria dos nomes dos acidentes geográficos e das cidades brasileiras é de origem indígena. Depois vêm os lugares com nome dos santos, escolhidos como padroeiros, muitas vezes, o santo do dia da descoberta do lugar ou de sua fundação.
Dizem que havia um costume arraigado entre os navegadores, no qual o escrivão da armada ficava de ouvido muito atento às expressões dos marinheiros, a primeira manifestação dita sobre o lugar batizava a nova terra. Foi assim com Bela Vista! Vejam que Costa Rica? Ó linda paisagem, Olinda. Que Belo Monte, perfeito para fazer uma hidrelétrica!
O problema foi grande. Ao chegarem a determinado ponto, onde, na barranca do rio, enfileiravam-se grande quantidade de nativas, que "vivendo na nueza... não escondiam o cofre dos deleites da ternura" um aflito gajo exclamou:
- Ó mina de xiri!
Protesta o capelão, seria indigno ao reino de sua majestade fidelíssima, um sítio, por mais ermo que seja, receber tal alcunha.
O escrivão, de acordo com o consuetudinário, já o lavrara; o cartógrafo media as coordenadas celestes para assinalar no mapa.
Intervém o capitão:
- Os dois têm razão! Não podemos ofender a fé, nem desrespeitar a regra. Vou fazer uma charada, um segredo cifrando o nome desta descoberta, em vez de: Ó-mina-xiri será O-rixi-miná.
Com Belém o caso foi muito, muito diferente.
Uma trana tramada nos mínimos detalhes. Numa síntese de gnoses, numerologias e astrologia e uma extraordinária estratégia. O nascente conhecimento científico, e o desespero de quem estava perdendo o domínio dos mares, uma aflição medonha que de tão douda e universal, só vai ser possível narrá-la, séculos depois, pelo gênio de Pessoa que o faz como o autor do Pentateuco.
O que ainda saberemos sobre esses sonhos desesperados, sonhados em segredo silenciosamente séculos e séculos: Tomar o reino das Amazonas, o El Dourado, aos Espanhóis e ali, pela Fé, ou por destino, ganância, ou maldição, ou por ser a última esperança, e estabelecer na concreteza desconhecida, úmida, hostil, superlativa dos trópicos, O QUINTO IMPÉRIO.
No plano místico seria governada por um rei-messias, no plano político pelo rei que restauraria o poder de Portugal, que mandado em tudo a ferro e fogo, se fosse preciso, estabeleceria o reino da paz e da justiça entre os homens.
Este era o reino de Jesus Cristo, e este reino teria um lócus, uma capital terrena.
Em que cidade nasceu Jesus?
Em Belém!
Em que lugar?
Em um presépio!
E O PLANO FOI POSTO EM MARCHA
Francisco Castelo Branco parte de São Luís. no tempo do NATAL.
Funda BELÉM, onde nasceu O SANTO CRISTO
(nome da primeira capela erguida no lugar escolhido)
que tem seu ponto alfa no
FORTE DO PRESÉPIO.
começa a ser real, o sonho da
FELIZ LUSITÂNIA!!
Não importa se crentes ou céticos, se deístas ou ateus, o fato é que o personagem Jesus Cristo é o fundador do Ocidente. É o cristianismo que, ao assumir o papel de ideia-força no espaço político do império romano, retempera a panela do império com ervas provenientes de geografias condenadas a se desertificarem. Com uma parte da Filosofia Grega e com as esdrúxulas ideias do judaismo "revistas" por "Cristo" e "reinventadas" por São Paulo, de acordo co Sizeck. Entrarão neste caldeirão tantas outras ervas dos paganismos que conviviam na horta romana.
É nessa sopa de ideias (uso sopa cósmica, mutatis mutantis como inspiração) contraditória, conflitante, incoerente, que, após muito cozer, foi surgindo, a partir do medievo, o Iluminismo, a Ciência a Moderna Filosofia e boiando na fervura a noção de culpa e de perdão; de justiça, de dever, de pecado, de juízo final, de igualdade; de liberdade, de fraternidade; de que tudo é de todos e para todos, de que todos têm direito a tudo, até chegarmos à Revolução Moderna Capitalista, que nos fez ser o que somos hoje, incompletos, amputados. Aí o sonho acabou, acabou no fracasso desta utopia, que começou religiosa, mas depois foi demonstrada no materialismo de Marx.
Mas há um ponto de inflexão na curva da História: (que fundamenta, isto é, um momento de síntese) o momento JC. Um momento de rapto, de absoluto, um mito fundador, o mito o nada que é tudo, portanto não importa que interpretação se queira dar, é um fato -não estou dizendo um personagem- mas um fato "real".
Belém foi fundada para representar simbolicamente, dentro do imaginário português, o lugar do renascimento de Cristo, o lugar onde aquilo que não fora possível antes, agora encontraria tempo e hora.
O mundo que não tinha sido digno, não tinha dado ouvidos às suas palavras, aqui nessa terra sem males, entre esses homens inocentes como Adão antes da queda (não cobriam suas vergonhas) seria o lugar propício para recomeçar o Reino, que coincidentemente teria como líder o rei ressuscitado (como me alertou a Maria Adelina Amorim, como o próprio Cristo) Dom Sebastião de Portugal.
Este é um relato, um relato que nos enche de alegria e deve deixar envergonhado o pessoal de Curionópolis, quando se lembra de que o nome da sua cidade foi uma auto homenagem imposta por um torturador egocêntrico, que agora está se explicando à justiça. Ou o azarado povo de Medicilândia, fundada sob o orago, como se dizia antigamente, de um sanguinário.
E os moradores de Placas cidade que ganhou este nome pois esta localizada na cofluência de duas rodovias onde havia aquelas placas de obras.
Que mitologia terão, a que deuses vão recorrer?
Já sei, aos Orixás das encruzilhadas, podem fazer lá um centro mundial de peregrianação, o lugar mais propício para fazer despachos, bem no cruzamento das duas estradas, o Despachódromo.
Brincadeira a parte...
Esses, se quiserem, não têm outras obrigações, além das da cidadania.
Nós, nascidos em Belém, deveríamos ter outro tipo de compromisso. Além de natural de Belém, nós deveríamos ter a nacionalidade do sonho. E cuidar deste território como terra sem males.
Não dizem que a camiseta da seleção brasileira pesa? Aquele que tem no documento de identidade natural de Belém deveria assumir a nacionalidade do sonho.
E já que está começando um novo governo, vamos convidar o Zenaldo e sua equipe para assumirem esses compromissos.
Vamos ser de Belém.
Vamos ser do lugar da utopia.
P.S.: Eu, Flavio Nassar, psicografei e adaptei ao português contemporâneo o texto que me transmitiu Felipe Patroni.
@Bruno Pelerin
Dedico ao meu cunhado Emanuel Matos, santareno, amante de Belém e seu cantor, que talvez, por vê-la tão estrupiada subiu no telhado e queria sair voando, nos deu muito trabalho pra convencê-lo de que apesar dos pesares ainda há muito o que amá-la. Ele desceu, para nossa alegria e desta Belém que em Outubros revive utopias.
2ª postagem revista.
O Flávio Nassar, além de fazer um afago a este seu velho cunhado e irmão, me enche de orgulho. A sua capacidade de transcender a partir das imanências nos faz ir para um universo da cidade onde sagrado e profano constituem-se elementos essenciais de permanentes epifanias. Um intelectual que orgulha Belém porque dela já constitui sujeito, parte de sua identidade. Belém de Flavio e Patroni viaja entre A Cidade Militante e a Nova Jerusalém, portanto, aquela para quem pode-se dizer: AVE, CHEIA DE GRAÇA!
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