terça-feira, 11 de dezembro de 2012

COMO NIEMEYER CHEGOU NO ENTRONCAMENTO

Eu conto o fato
Como o fato foi.

Conto de memória, alguns detalhes podem fugir, mas o cerne da questão não.

Governo Jader Barbalho, (1983-1987), tempos de reconstrução da democracia - a eleição de Tancredo será em 1984 – fatos como as revoltas nativistas, antes desprezados durante a ditadura, eram então valorizados.
Se aproximava a comemoração dos 150 anos da tomada de Belém pelos Cabanos e Jader, advertido por Carlos Roque, resolveu dar significado relevante à data.

Até então, em Belém, existam apenas marcos comemorativos à derrota dos Cabanos. A Rua 13 de Maio, por exemplo, não ganhou esse nome em comemoração a lei Áurea, mas ao dia em que as forças legalistas retomaram Belém em 1836.
Ainda há um monumento em frente ao colégio Santo Antônio, dedicado ao facínora Francisco José de Sousa Soares de Andrea, o Barão de Caçapava, que bombardeou impiedosamente Belém.

O ponto culminante das comemorações seria inauguração do monumento que transformasse a visão sobre os Cabanos. De bandoleiros, "classes infames", saqueadores a heróis da formação da nacionalidade brasileira.

Foi constituída uma comissão designada por decreto do governador (pelo que lembro era presidida pelo Carlos Roque) era integrada pela ala "esquerda do governo" Benedicto Monteiro, procurador Geral do Estado; Itair Silva, Secretário de Justiça; José Akel Fares, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB-Pa, e eu, Flávio Sidrim Nassar, que tinha sido "convidado/indicado" para representar o Departamento de Arquitetura da UFPA. Sinceramente não me lembro se tinha mais alguém. O Manuel Acácio, secretário de Obras?

A ideia era fazer um concurso. Começam as reuniões para discutir como viabilizá-lo. A única voz discordante era a minha. Vínhamos de uma experiência traumática, o concurso do projeto do Centur. Ninguém admitia falar em outra modalidade, os tempos eram democráticos, o concurso daria oportunidade a todos. Eu, cavaleiro solitário, insistia. Nos bastidores o Akel concordava comigo, só que na condição de presidente do IAB não podia ter senão um posicionamento corporativo.
Já estavam redigindo o regimento do concurso, e, cada vez mais, ficava provada a complexidade e a dificuldade daquele processo, que, como o do CENTUR, não garantia a qualidade.
Um dia, na hora do cafezinho, eu acompanhado do Akel chamei o Roque para uma janela do palácio Lauro Sodré, onde se reunia a comissão, e falei:
Esse negócio não vai dar certo, tu queres ver uma solução que resolve tudo isso e ninguém vai ter coragem de reclamar. Sugere ao Jáder o Niemeyer pra fazer o projeto, pelo tema duvido que ele recuse.
Roque fez cara de paisagem congelada da Sibéria e insistiu:
O Homem quer concurso, vamos fazer o concurso.
A reunião prosseguiu meio sem rumo

Uns 20 dias depois, o jornal mostrou as fotos de Jader e Roque no escritório do ON no Rio

Não me importa como o Roque passou a ideia ao governador, só sei que a bola quicou na frente dele e .... goool.
Isso foi o que nos pareceu entre os sobreviventes da comissão, eu e o Akel.
O outro é o Jader, quem sabe, um dia, conte mais detalhes desta história.

O fato é que Belém ganhou um privilégio; poucas cidades no mundo foram tocadas pelas graças deste deus.

A comissão só foi convocada novamente para a inauguração.
Nosso nome constou em placa de bronze.

Para desespero de muitos, coube ao Jader fazer a mais digna homenagem aos Cabanos e popularizar a palavra Cabanagem. Antes, aquele não-lugar, de estropiada paisagem urbana de Belém, ninguém mais sabia porque, se chamava Entroncamento.

16 comentários:

  1. Luiz Mário de Melo e Silva11 de dezembro de 2012 às 08:36

    Caro professor, sugiro que esta postagem conste nos anais da Assembleia Legislativa do Para e de toda instituição educacional do Estado do Pará.Parabéns!

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  2. Belo depoimento... Obrigado por nos brindar com essa preciosa informação de bastidores.

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  3. Flávio, q bom saber q a ideia saiu da sua cabeça, de arquiteto consciente q é, e com sabedoria o suficiente pra colocar a "bola" bem no pé de quem poderia chutar pro gol!!!Parabéns: ON em Belém, foi "jogada" sua!VL

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  4. Flávio, o depoimento e o texto são teus, mas peço que ponha o crédito ao menos na fotografia do Monumento ao Francisco Andréa, que consta da minha monografia de especialização denominada Marcos do Tempo (http://marcosdotempo.blogspot.com.br/2010/01/memorial-da-cabanagem.html) de onde , possivelmente, foi retirada também sem as devidas referências e onde postei entre aspas essa referência da importância da construção do Monumento à Cabanagem como fato referencial objetivo aos cabanos.
    A criação do blog Marcos do Tempo visou justamente a difusão de trechos deste meu trabalho, visto que eu encontrava, com muita frequência, citações inspiradas de pessoas que, na verdade, foram achados construídos em articulações e trabalho braçal e intelectual árduo, sob a orientação da professora arquiteta e futura doutora Elna Trindade e co-orientação do MSc Tadeu Costa.
    Ideias, amigo, bem citas, são apropriáveis e nem sempre é dado crédito, mas construção intelectual e autoral, reza a regra, deve ser respeitada.

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    1. Cladia
      Não entendi muito bem seu comentário.
      Com relação à foto para a qual vc reclama créditos, na pesquisa feita no Google Image, não aparecem creditos.
      Fico esperando que clerifiques mais teu comentário para que possa me manifestar.

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    2. Google imagens é instrumento de busca, não fonte de referência. A página na qual pegaste a imagem cita a fonte do texto, postado (embora de minha autoria) entre aspas, fazendo referência a este trabalho.
      O acesso livre também estabelece novas relações de respeito e sociabilidade. Não é um "achei-achado-quem-postou-é-abestado", pois senão, com muito menos peso valeria seu relato, que não tem base referncial. Mesmo na internet existem regras a serem seguidas em relação a fontes, isso em trabalhos sérios que buscam reinvindicar credibilidade.

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  5. Flavio,

    Não leva a sério com esse post arrogante, reclamando crédito na Internet. A beleza da internet é essa, as ideias em fluxo livre.
    Ana Maria.

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  6. Eita,
    isso é querer importar a linguagem de um meio - a academia - para outro - a internet.
    É como se um árabe quisesse impor aos brasileiro o hábito de arrotar à mesa, depois das refeições. Por lá, isso é até um elogio à cozinheira. Por aqui, não é desejável ou mesmo agradável.
    Se o chororô persistir, eu me comprometo a ir ao local e fotografar o "obra" como enviado especial do blog.
    :)

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  7. Adorei o teu post.
    Quem é essa Cláudia Nascimento? Que infeliz! Entrou no circuito para quebrar o clima... Sábado eu passo lá na Praça do Colégio Santo Antonio e faço uma foto do Caçapava para ti, hehe

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  8. Lamento que a minha reivindicação justa de citação de autoria tenha se tornado incômoda. Exitem sim regras para internet que, nada mais são que as mesmas de civilidade em qualquer situação e, a o que saiba, estamos numa rede onde as linguagens se entrelaçam e, mais ainda, devemos atentar à nossa responsabilidade com os outros.
    Para quem não me conhece, indico o seguinte link http://lattes.cnpq.br/7528362019835807
    As providências cabíveis já estão sendo tomadas. Mesmo substituindo a foto, o incômodo já foi bastante grande à minha imagem.

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  9. Parece que houve um certo quebra-pau aí. Ainda bem que é virtual. O texto está bacana. E não custa citar a fonte, a posteriori, no caso. Não se dividam. Voces são do mesmo lado. ;)

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  10. Ué, por que o meu comentário não está mais aqui?

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  11. "As providências cabíveis já estão sendo tomadas. Mesmo substituindo a foto, o incômodo já foi bastante grande à minha imagem".

    Cuidado que aí o copo cai e vai espalhar água pra tudo quanto é lado...

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  12. Paraiba,
    Grande resgate,história conhecida por poucos que eu já havia esquecido mas,confirmo.

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