quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Encerrando a conversa: Divisão do Pará, ou mania de relatório final

Isso é apenas um relato de fatos que ouvi, ou acompanhei, e minha análise da estratégia dos que "tramaram" a divisão do Pará.
Este movimento secessionista nasceu em "Carajás" como uma "oportunidade de negócios" inspirada nas mamatas em que surgiram com a instalação do Estado do Tocantins.
Estimulada, é claro, pela agilidade de jabuti paraplégico, com que, as elites "do Belém" tiveram em perceber o que rolava no canto de baixo do mapa do Pará.
O primeiro passo foi aglutinar os prefeitos da Associação dos Municípios do Araguaia e Tocantins, AMAT, formou-se, deste modo, sem nenhum critério técnico o mapa do novo estado.
Perceberam, um problema, ficariam isolados, sozinhos naquela canto, aí, grande sacada: vamos convidar o povo do oeste do Pará.
Quem é que está satisfeito com este projeto de Pará?
Ninguém.
Desde a queda da borracha, mas principalmente depois dos anos 1960, quando se redesenhou a geopolítica brasileira, as elites paraenses (políticas, empresarias, intelectuais, sindicais) têm sido incapazes de formular um projeto para o Estado e também de administrá-lo com competência.
A divisão seria mostrada para a população, como o remédio universal para seus males e para as elites, políticas e empresariais, como mandatos governamentais, senatoriais, prefeituras e câmaras de capitais e obras, muitas obras para implantar o novo estado.
Foi com este canto de sereia que juntaram-se a AMUT - Associação dos Municípios das Rodovias Transamazônica Santarém/Cuiabá e Região do Oeste do Pará, e a AMUCAN - Associação dos Municípios da Calha Norte.
Pensaram: pronto, agora somos a maioria!
Se m2 votasse, esta estratégia funcionaria, o problema é que quem vota é gente.
E a maior quantidade de gente estava fora do mapa que eles traçaram.

Carajás
A área de "Carajás" apesar de primitivamente ser tão cabocla como o resto do Pará, propostas de reforma agraria, projetos de colonização, depois a mineração atraíram
grande influxo migratório, criaram muita riqueza que logo ficou concentrada nas mãos de poucos e espalhou demandas de toda a ordem, incapazes de serem atendidas, mesmo se tivéssemos a mais eficiente administração estadual, pois são decorrentes da pobreza gerada em outras regiões do país e transferidas para cá.
Como as nossas lideranças políticas não foram capazes de cobrar da União Federal os investimentos para enfrentar aqui problemas decorrentes das desigualdades nacionais, acentuaram-se as contradições, e intencificaram-se os conflitos, a violência...
Os separatistas passaram a atribuir isso a ausência de "estado", incompetência do governo de Belém, apesar de seguirem o princípio: "hay gobierno soy a favor" e, por isso, terem participado de todas as recentes administrações do estado.

Tapajós
Se, agora quiseram afirmar que, historicamente, havia este ânimo separatista no Tapajós, no meu entendimento, era sentimento dormente, de baixa relevância, incapaz de se aglutinar como força política.
Era um sonho longe, inimaginável, porque considerado quase impossível. Algo em que a distância entre intenção e gesto, era maior do que a distância, entre as duas margens do rio de fronte de Santarém.
O processo foi turbinado a partir da mobilização de Carajás e incentivado por eles, entraram como boi de piranha nos planos carajaenses para engrossar o caldo, não tinham nem dinheiro para financiar a campanha. Como uma região que tem históricos sentimentos de se tornar independente, se tem uma elite que quer o poder, não busca recursos para isso? Os Inconfidentes de Minas, lá no século 18, não queriam pagar impostos para Portugal para terem mais dinheiro e se cacifarem, se armarem. Os bacamartes de hoje se chamam: grana. Eles não tinham. Quem pagou quase tudo foi Carajás. Me desculpem, mas eu não acredito neste sentimento separatista que não se materializa na substância vital da política. Para mim esse sentimento era mais um sebastianismo do que um separatismo.
Tapajós era o pobre com fome que pecou por gulodice, se um das razões alegadas para dividir o Pará, era a vastidão territorial, o que justificava criar um estado ainda tão grande, para ser administrado por uma estrutura ainda a ser criada.
Para administrar um estado, nesses brasis vigentes, tem que ter competência em duas áreas, na técnica e na da sacanagem, balanceados em harmonia, essenciais para as questões fiscais, de segurança, militar (faltou este mix no governo do PT).
Se a estrutura burocrático-administrativa do Estado do Pará, com competência instalada nas duas áreas, tem os problemas de governabilidade que reclamavam, será que o novo estado tapajônico teria?

Os líderes separatistas, primeiramente e principalmente Giovanni, depois o Lira Maia, não fizeram outra coisa, nestes últimos anos, a não ser articular-se com o baixo clero no Congresso Nacional e chantagear os governos estaduais para turbinar suas bases.
E todos, TODOS, aceitaram o jogo sujo.
E eles foram crescendo, arranjando adeptos.
Na conversa mole:
- Nós somos governo! Não tem problema, o chefe apóia.
E o governante de turno com esse papo: sou a favor do voto, da democracia, da consulta, do plebiscito, o povo que é soberano vai resolver, o que decidir eu acato, eu serei o juiz.
Esse foi o discurso de todos os candidatos, DE TODOS, nas recentes campanhas, e de Jatene quando foi aprovado o plebiscito.
E do Jáder, que continuou neste refrão, mesmo depois do resultado.

E assim sem que ninguém se postasse do lado razoável, como a calúnia do Fígaro no Barbeiro de Sevilha, que começa como um ventinho que depois se transforma em furacão, a idéia foi crescendo, se alastrando, ganhando corações e mentes, de conspiração para assaltar a viúva, transformou-se em esperança de futuro melhor para muitos milhares.
E virou alucinação coletiva, nas ruas, nos comícios, nos blogs, nos tuites, nas passeatas. Cegos não percebiam que desde o início o projeto era matematicamente impossível.
Mas ninguém os alertou para isso com a crueza e verdade necessária.
Nem do lado dos irresponsáveis incendiários, nem dos omissos que deveriam, por dever, serem os guardiões, não apenas da integridade territorial, mas, como quem zela e protege os sentimentos dos desavisados, não negando a legitimidade do que pleiteavam, advertir para que não caíssem nas conversas de manipuladores, nos novos currais eletrônicos da propaganda, para não criarem sonhos que não dependiam da vontade deles, mas da RENÚNCIA VOLUNTÁRIA da maioria da população do Pará, que era contrária à ideia da separação, e que portanto insistir nisso seria entrar numa canoa furada.

Mas por que eles se calaram?
Por que eles não fizeram esta conta tão simples, para explicar ao povo de Carajás e Tapajós a inviabilidade da proposta, uma vez que ela era contrária aos interesses da maioria do eleitorado do Pará?

Porque isso colocaria a nu sua incapacidade de ter pensado um projeto comum ao Pará.
Isto diz respeito a TODAS as administrações do estado nas últimas décadas.

O resultado são estas fraturas expostas.




A alma paraense em caquinhos.




Espelho estilhaçado em milhares de pedaços





Que vai pagar por toda esta dor?




Um comentário:

  1. Achei seu artigo excelente, mas acho também que é momento arregimentar todo povo do Pará a superar esta fase, ou fratura só vai ajudar os coronéis na manipulação dos temas que realmente importam para esse estado.

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