sábado, 6 de agosto de 2011

Zona do EURO: uma crise de governança

Será que a União Europea está fu.... ?

Leiam o artigo do professor Mário Ribeiro da UFPA, publicado na Folha de São Paulo e concluam.

Quanto tempo pode resistir uma união monetária sem a ocorrência conjunta de uma união fiscal? Ou mais ainda, sem uma união política? A crise da chamada zona do euro tem sido vista como uma “crise de dívida soberana”. Ou como um problema de finanças públicas desordenadas. Será somente isso mesmo? Creio que não. Crises financeiras são epifenômenos. Estão apenas na superfície de uma doença mais profunda e ainda não declarada.
O fenômeno, que é a própria patologia, é a “crise de governança”. Usualmente reduzida à condição de “governabilidade”, governança é algo maior. Governança é gênero, governabilidade é espécie. Governança na zona do euro requer regras do jogo bem definidas, exige um mapa contratual onde as responsabilidades e a segregação de atribuições sejam acordadas de modo supranacional, mas que não abafem o ethos nacional de cada país membro e assim possam ser razoavelmente factíveis. Governança requer instituições comuns. Será que isto ainda é possível de ser alcançado?
Recorde-se que a zona do euro - onde 17 Estados adotam o euro como moeda - nasceu em 1999 de um desejo político de garantir a paz, a democracia e oferecer um modelo de crescimento sustentável comum a todos os membros. Mas a ordem dos fatos não foi esta. Os seus principais líderes, Alemanha e França, mergulharam de cabeça na reforma econômica e subestimaram a reforma política. Não houve uma “união fiscal’ e muito menos uma “união política”que pavimentasse o caminho para uma união monetária.
Ademais, o desequilíbrio econômico entre o centro e periferia ( basicamente os PIIGS, Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) foi o fato mais negligenciado. As instituições ( regras do jogo)vieram de cima. A tal convergência foi o artefato econômico que simplesmente desabou sobre a periferia.
A Alemanha ajudou a disfarçar o risco estimulando a compra de títulos de dívida soberana por diversos bancos. O Banco Central Europeu também deu uma força para sustentar a fantasia de risco zero nesses papéis. O slogan “... euro in your wallet, Europe in your pocket” ( euro na carteira, Europa no bolso) servia para informar que a nova união monetária já teria completado o sonho europeu de plena integração. Nada mais seria necessário fazer, a velha Europa já havia recebido o seu coup de Grace. Para o futuro apenas perfumarias, um parafuso aqui, outro ali. Lanternagem boba.
O fato é que os “perdulários”(sic), como os PIIGS, teriam de fazer o dever de casa. Disciplina fiscal, dizia Ângela Merkel – a “Dama do Não”(“Frau Nein”) como os europeus a chamam. Mas a iminência de um calote da Grécia somente trouxe à tona o tecido já contaminado: toda a periferia – e não apenas os PIIGS- correm o gravíssimo risco de quebrar juntamente com o centro. Não existe auto-engano e sim auto-interesse. O sistema bancário europeu está sub-capitalizado e necessitando de reformas; o Banco Central Europeu eleva as taxas de juros; os alemães- “Frau Nein” à frente – propõem uma participação “voluntária” (sic! - deve ser brincadeira!) do setor privado no pacote que estão tentando costurar impedir que a periferia arraste o centro para as suas águas.
A ausência dos adultos no jogo e a inexistência de coordenação política viabilizam apenas o cenário mais inconcebível: fugir do euro. A zona do euro apenas foi colada pela convergência de baixas taxas de juros reais que impulsionaram um crescimento ilusório.
Haverá reestruturação das dívidas? Sem dúvida. Mas questão é saber quando (mais cedo ou mais tarde) e como (com ou sem ordem na casa). Mas o risco não é mais idiossincrático, não depende mais deste ou daquele país. O risco já contaminou o sonho europeu. O tempo apenas mostrará que a atual união monetária já morreu.

Mário Ramos Ribeiro, doutor em economia pela FEA-USP, docente da Universidade Federal do Pará, é Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Estado do Pará-FAPESPA. Email:
mramosribeiro@uol.com.br

P.S.1: A imagem ilustrativa é uma montagem em cima do famoso quadro do Gustavo Coubert. Retira as crianças da sala e clic aqui.

3 comentários:

  1. "FLAVIO - MUITO INTERESSANTE ÊSSE ARTIGO DO MÁRIO RIBEIRO, ALIÁS, ISSO FOI PREVISTO EM 1998, POR ALGUNS TÉCNICOS EM ECONOMIA E POLITCA FISCAL NA INGLATERRA, SENDO QUE O MÁRIO DETALHOU MELHOR. . . . . ! FORTE ABRAÇO AMIGO."

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  2. De fato, isso foi delineado quando Leibniz fez a proposta inicial, portanto, previa esses cuidados e não foram tomados.

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  3. Os seus dotes de fotógrafo são bons.

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