sábado, 5 de fevereiro de 2011

Antologia das quedas

Na música brasileira, pelo menos duas letras de canções famosas se referem aos desabamentos de obras de engenharia.
O mais famoso verso é o espetacular de Aldir Blanc no "Bêbado e o Equilibrista", "caía a tarde como um viaduto". As vezes não é percebido o verdadeiro sentido do verso, ele se refere à queda de parte do Viaduto Paulo Frontin, no Rio de Janeiro, em 1971. Considerando isso o verso adquire uma grande força poética.
O cair da tarde é sempre associado a situações melancólicas ou bucólicas, a Ave Maria de Erothides de Campos é exemplo disso: Caí a tarde tristonha e serena. Aldir nos prega uma peça, nos trás esta imagem da tarde que cai, e quando achamos que depois vem algo romântico, apresentada-nos a comparação com a trágica queda do viaduto que vitimou a tantos, isso feito na maior naturalidade.
A música do João Bosco, segue o caminho inverso da poesia contribuindo para manter a sensação de que a queda da tarde ao se parecer com a de um viaduto é uma coisa bela.
A MPB tem momentos geniais, este verso é um deles.
Ouça a interpretaçao de Elis Regina para este primor.


Outra mais direta e menos famosa é A Demoliçao de Juca Chaves.
Confira:

Cai cai , cai cai
outra construção civil
realmente ninguém segura
a arquitetura do Brasil.
cai, cai tudo que se constrói
da tampa da caneleira,
à ponte niterói
cai até o elevado
do doutor Paulo Frontein
cai o teto do mercado
é a moral de quem não tem.
O engenheiro culpa a corrosão
e a desgraça se transforma
num show de televisão.
Cai, cai, sai de baixo
quem é esperto, arquiteto
é quem se afirma engenheiro
que deu certo.
Cai, cai em porta-demolição
caem coisas mais importantes
que ninguem percebe não,
como as lágrimas cortadas
de figuras de TV,
cai os niveis dos programas
cai cantor, cai seu cachê
cai a bolsa, a causa ninguem diz
só o biquini da jaqueline
é que caiu porque ela quis.

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