segunda-feira, 23 de maio de 2011

O bom selvagem ainda vive em corações e mentes

Na II Reunião Internacional do Fórum Landi a lenga lenga sobre a necessidade de preservar a população ribeirinha do Beco do Carmo se fez presente.
Seria tão bom se estes sociólogos de Batista Campos, Nazaré ou Umarizal percebessem que ninguém esta ali porque quer, muito menos por algum vínculo atávico à beira do rio.
As pessoas não moram ali por questões culturais, elas moram ali por um processo de exclusão social, que lhes impede de viverem em ambiente saneado e urbanizado.
Não existe nas cidades ribeirinhas, a não ser naquelas marcadas por processos de segregação como é o caso de Laranjal do Jari, concentrações habitacionais como as que se verificam nestas beiras de cidade, nem se vive em tão precárias condições sanitárias.

No fundo no fundo, essas ideias refletem os preconceitos eurocentristas que estão na base do mito do bom selvagem. Aquelas pessoas (elas, os outros)  não podem sair da ancestral beira d'agua porque, coitadinhas, são incapazes de racionalizar e ao serem transplantadas serão acometidas de profundo banzo.


P.S 1: Quantos de nós, urbanos de origem, não fizemos percursos entre diversos pontos da cidade? Eu por exemplo, nasci e me criei em Nazaré, depois me mudei pro Jurunas, e lá pude viver sem ouvir os sinos da basílica e sem pisar nas pedras de Lioz.
P.S 2: Proponho a estes preconceituosos que façam um experimento, escolham algumas famílias e encontrem algum modo sutil de repassar renda para elas. Vão todos se mudar para um lugar digno em área urbanizada.
P.S 3: É muita ingenuidade pensar que no Capitalismo a cultura dominante não seja a cultura do Capitalismo, tanto ricos como pobres são dominados pelos valores desta cultura. Estes valores conferem status superior morar em casa de alvenaria em bairro saneado, logo ninguém aspira morar fora deste padrão.
P.S. 4: Esta transposição mecânica de métodos da Antropologia, usados para analisar culturas isoladas, para situações urbanas tem dado muitos equívocos.

Um comentário:

  1. O que devemos fazer para diminuir o sofrimento daqueles mais necessitados?
    Celio Guilhon

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